A ONU News conversou com o infectologista Stefan Cunha Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, no Brasil, sobre o aumento de casos da varíola dos macacos.

Médico brasileiro Stefan Cunha Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, falou à ONU News sobre aumento de casos da doença; embora tenha baixo potencial de gerar uma emergência, especialista destaca que sistemas de saúde devem se preparar e isolar os pacientes, já os governos precisam monitorar os surtos.

Casos de varíola dos macacos, em países não-endêmicos, levaram a um alerta em todo o mundo nas últimas semanas. As regiões consideradas endêmicas para a doença são o centro e o oeste da África.

Com 92 notificações confirmadas e outras sendo investigadas, a Organização Mundial da Saúde, OMS, explica que o aumento de casos gera preocupação, mas a doença ainda pode ser contida nos países não-endêmicos.

“Preocupante, mas não alarmante”

A ONU News conversou com o infectologista Stefan Cunha Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, no Brasil, sobre o aumento de casos da varíola dos macacos.

Segundo o infectologista, a doença não possui um nível de transmissão alto o suficiente para causar uma nova pandemia. No entanto, ele alerta que os sistemas de saúde devem estar preparados para lidar com o vírus.

“Esses casos atuais necessitam das autoridades de saúde uma preocupação, mas são casos não alarmantes para a população ou em termos de saúde pública. Esse vírus é um DNA vírus que já está adaptado ao seu animal, que são os roedores da região tropical da África. Ele pode passar para o humano acidentalmente, mas ele não é um vírus que sofreu mutação para se adaptar no humano e passar de pessoa para pessoa. Por acaso, ele tem a possibilidade de passar de humano para humano, mas não é uma transmissão tão grande a ponto de causar uma pandemia global. A preocupação é que os órgãos de saúde estejam atentos para parar a cadeia de transmissão.”

Casos leves e baixa mortalidade

A OMS informou que os pacientes confirmados tiveram apenas sintomas leves até o momento. Segundo o infectologista, os casos mais amenos são característicos nos humanos. Além disso, ele ressalta que a mortalidade é baixa, ficando entre 3% e 6% dos infectados.

“A característica dele [varíola dos macacos] nos humanos é essa: causar o quadro leve, a pessoa fica com sintomas de qualquer virose. Logo após do primeiro ao terceiro dia, ela começa a ter as lesões cutâneas. Quando a gente vai avaliar, a gente vê que a mortalidade na África, de todos os casos que têm, varia de 3% a 6%. Mas essa é a taxa onde o vírus circula: em cidades pequenas, próximas a florestas... as pessoas podem ter complicações, mas não tem infraestrutura adequada para o tratamento.”

Nos quadros mais graves, Stefan Cunha Ujvari explica que o vírus pode comprometer órgãos internos, principalmente em pacientes com baixa imunidade, e as lesões de pele podem se agravar em infecções bacterianas.

Diferenças entre os vírus da varíola dos macacos e coronavírus

O baixo potencial da disseminação da varíola dos macacos se transformar em uma emergência de saúde está no tipo de vírus que causa a doença. Diferente do coronavírus, a doença é transmitida por um vírus de DNA, que possui chances menores de mutações.

“Quando você tem um animal selvagem com a presença de um vírus, se esse vírus é um RNA vírus ele sofre muito mais mutação do que um vírus DNA. O coronavírus é um RNA vírus, que sofreu mutação e, com isso, infectou o homem e se adaptou ao homem. Por isso que ele passa de pessoa para pessoa e causa uma pandemia. O monkeypox [varíola dos macacos em inglês], é um DNA vírus, então não sofre tanta mutação. Essa é a grande diferença entre RNA e DNA vírus. Quanto maior o genoma do vírus, menor ainda a mutação. Então, o monkeypox é um vírus que sofre pouca mutação.”

Segundo o infectologista, o vírus que causa a varíola dos macacos é presente nos roedores da África e, eventualmente, teve a capacidade de infectar o homem. Ele reforça que como não está adaptado para o humano, a transmissão entre pessoas não teria potencial de causar grande disseminação.

Prevenção e tratamento

Por essas características, Stefan Cunha Ujvari afirma que não há necessidade de tomar “medidas drásticas” neste momento, mas ressalta que os serviços de saúde devem ter medidas claras para conter a circulação do vírus, especialmente de monitoramento de pessoas que estiveram em locais endêmicos ou tiveram contato com pacientes.

Ele explica que a transmissão se dá por meio do contato com o líquido das pústulas cutâneas. Além da contaminação pela pele, também há possibilidade de infecção pelo uso compartilhado de toalhas e roupas e até mesmo pelo ar, que pode ser minimizado pelo uso de máscaras. Mas ele ressalta que também há diferenças claras neste tipo de transmissão:

“O vírus se dissemina pelo corpo e causa essas lesões na pele – com bolhinhas de água. Quando elas se rompem, elas eliminam o vírus. Por isso que o mecanismo principal é esse de contato próximo da pessoa, roupa de cama, toalhas. Além disso, o vírus uma vez disseminado, ele compromete as mucosas também, então a pessoa pode eliminar o vírus através de gotículas, por isso a máscara para evitar o contágio.”  

Sobre a vacina, o infectologista explica que as doses contra a varíola comum se mostram eficientes contra a varíola dos macacos por serem doenças com um “vírus ancestral comum”. Os dados da OMS apontam para uma eficácia de 85%.

Stefan Cunha Ujvari acredita que uma campanha de vacinação contra a doença não seria fundamental, mas que as doses podem servir como “bloqueio” para aqueles que tiveram contato com infectados.

Até o quarto dia após a infecção, os imunizantes podem evitar a evolução da doença ou amenizar os sintomas.

STEFAN CUNHA UJVARI

news.un.org

 

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