oferecida nos comerciais de viagens, de eletrodomésticos, de casa nova, e poderíamos ir muito além… Não obstante essa busca frenética, encontramos pessoas cada vez mais sós, apesar de tantos amigos de Facebook, de grupos de WhatsApp, de seguidores do Instagram…
Quem de nós não conhece, em si mesmo e nas pessoas que ama, o sofrimento, a dor, a angústia, o desespero, o desamparo?
Como falar de sofrimento numa sociedade em que vivemos imersos na busca da felicidade? Felicidade que aparece estampada em redes sociais, fotos de pessoas sorridentes, bonitas, jovens e magras, oferecida nos comerciais de viagens, de eletrodomésticos, de casa nova, e poderíamos ir muito além… Não obstante essa busca frenética, encontramos pessoas cada vez mais sós, apesar de tantos amigos de Facebook, de grupos de WhatsApp, de seguidores do Instagram… Quem de nós não conhece, em si mesmo e nas pessoas que ama, o sofri mento, a dor, a angústia, o desespero, o desamparo?
A pergunta que não quer calar: qual o sentido do sofri mento, ou melhor, existe sentido para o sofrimento?
A jornalista e escritora americana Gail Sheehy parte da premissa de que a personalidade não está jamais pronta e acabada. Durante a vida adulta, o processo de crescimento continua, com mudanças interiores contínuas e previsíveis ao longo do tempo. As etapas do crescimento, segundo Sheehy, são marcadas por crises, pontos de virada, que a autora preferiu chamar de passagens. Essas passagens se devem à própria expansão da personalidade, como se ela não “coubesse” mais na maneira de ver a si mesma, em seus projetos e, enfim, em seu eu. Esse processo, longo e doloroso, é um amadurecimento e não está ligado às circunstâncias (por exemplo: estou sofrendo porque perdi um ente querido, ou me separei de meu cônjuge…)
A cada passagem é preciso abandonar alguma ilusão de segurança ou a forma como vemos a nós mesmos, por exemplo. Ao sair de uma passagem recupera-se a tranquilidade, o que traz a sensação de reconquista de equilíbrio…
como um salto qualitativo. Porém, essa não é a única alternativa: podemos escolher não crescer, ficar numa “base permanente”. Como afirma o poeta Affonso Romano de Sant’Anna em uma de suas crônicas: “Tem gente que não
fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los”.
Outra autora que nos ajuda a pensar o sentido do sofrimento é a jornalista e psicanalista americana Judith Viorst, que também percebe um processo contínuo de desenvolvimento do self, que se dá através de perdas consideradas
necessárias. Quando pensamos em perdas, pensamos logo em nossos entes queridos, mas esse é um processo muito mais abrangente. Perdemos nossos sonhos românticos, ex pectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de segurança. Perdemos o nosso próprio eu jovem, o eu que se julgava sempre imune a rugas, invulnerável e imortal, e poderíamos ir muito longe nessa lista. Essas perdas são parte da vida, sempre dolorosas, sempre necessárias, porque para crescer temos que perder, abandonar e desistir. Segundo Viorst, nas várias etapas da vida apresentam-se desafios de perdas significativas. A última etapa, a perda da vida, será vivida com mais tranquilidade se todas as outras perdas necessárias ti verem sido vividas bem.
"Perdas são parte da vida,
sempre dolorosas, sempre
necessárias, porque para
crescer temos que perder,
abandonar e desistir"
Para o teólogo e psicoterapeuta Ismael Vilela, o sofrimento nos faz sentir na carne que somos limitados, impotentes, o que nos permite compreender nossa própria dimensão humana.
É uma ocasião de superação de si mesmo, recomposição de relações, aproximação e solidariedade entre as pessoas, como se vê em grandes catástrofes.
Em 1999, Chiara Lubich recebeu doutorado honoris causa em psicologia pela Universidade de Malta. Entre as motivações para a condecoração, a instituição ressaltou a atuação da fundadora do Movimento dos Focolares na valorização positiva do sofrimento e daquilo que é negativo na história pessoal e coletiva. Chiara também dá um valor de crescimento, de desenvolvimento humano, à experiência do sofrimento, a partir de uma espiritualidade que pode conduzir a um caminho de crescimento não somente espiritual, mas também em seus aspectos psicológicos.
por MARIA DO SOCORRO
Fonte: www.cidadenova.org.br