Uma mudança nas relações humanas. A poucos dias comecei a ler a nova encíclica do Papa Francisco “Fratelli tutti”, estava ainda em processo de maturação daquele texto, que ao relance, parecia um romance, porque uma página chama a outra, porém não precisava de um olhar refinado para entender os desafios, questões e pensamentos
que foram colocadas em jogo naquele texto, era muito mais que um “romance”, é algo profundo, que toca a todos nós, pois coloca em jogo as nossas relações humanas no momento atual da história, mostra as suas nuances e distorções.
A encíclica não é mais um documento, mas é um toque de despertar para a humanidade.
Por isso, não conseguia parar de pensar em sua riqueza, nas minhas ações cotidianas, das mais simples as mais complexas, e principalmente nos últimos acontecimentos que a humanidade foi chamada a viver, e como ela está reagindo a esse chamado.
Francisco inicia o seu documento citando Francisco de Assis, nos convidando ou melhor, nos aconselhando a viver uma fraternidade em sentido universal, “o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si”. Essas poucas palavras de São Francisco, assim menciona Francisco, nos explica o essencial para viver a fraternidade universal, sem barreiras, distancias e polarização (Francisco 2020. Carta: 01-1).
Durante essa semana e com essas palavras ao coração, recordava de alguns momentos deste ano, por exemplo: Em 20 de março de 2020, o povo brasileiro se viu obrigado a despedir-se da sua vida cotidiana ao “improviso”, não foi permitido nenhum tipo de adeus, não houve abraços calorosos e nem mesmo aperto de mão.
Me lembro que naquela semana, o clima na minha “pacata cidade” do interior paulista, tinha um ritmo completamente desenfreado, pessoas que corriam a mercados, lojas, farmácias, postos de gasolinas, bancos, todos queriam garantir bem estar e segurança para a tempestade que se aproximava, na qual ninguém sabia ao certo o que aconteceria…Era impossível achar um lugar tranquilo, filas e mais filas, e pelas ruas, existia uma população com pouca fé e aterrorizada, porque o desconhecido é algo que assusta.
Lembro que neste dia fui buscar meu sobrinho de 2 anos à escola, e até as crianças estavam agitadas, corriam de lá para cá sem controle, as professoras que antes eram carinhosas e conseguiam contornar praticamente qualquer tipo de situação, estavam recuadas e visivelmente com receio de estarem ali, elas não haviam mascaras, luvas, álcool ou outros produtos de limpeza, pois essas coisas já tinham se esgotado na cidade, era visível que dentro da escola, o medo também estava dominando a todos.
Ah o medo! A cada dia que se passava a ansiedade tomava conta da população. A imagem que vinha em minha mente era do quadro “A Criança geopolítica observando o nascimento do homem novo” de Salvador Dalí, assim como Dalí que em meio a Segunda Guerra se preocupava com o futuro da humanidade, aquele quadro poderia tranquilamente ser interpretado com o atual momento.
As perguntas que geralmente escutava e que também vinham em meu intimo eram: “O que será da humanidade de agora em diante? Como iremos sair dessa? O que nos espera? A espera será longa? ”.
Quando eu pensava no quadro de Dalí, via todo caos global que estava acontecendo, como aquele mundo rachado, e a incerteza do que estava saindo de dentro daquele globo que se despedaçava. Para mim aquela imagem, representava a incerteza, medo, ideologias, políticas, sofrimentos…as notícias e informações que chegavam, aos meus olhos representavam a Eva. Sim! A Eva de Dalí, pode nos dar diversas intepretações, aos meus olhos ela vem retratada como uma mulher com a ausência de paz, com uma fortaleza, da qual não parece ter compaixão, dependendo do ângulo que se olha, ela também pode retratar a imagem do sofrimento, do desgaste físico e mental, parece ser uma mulher forte, porque a vida não foi fácil. Por isso a Eva poderia ser as notícias, que as vezes são difíceis de decifrar, que nos leva a cegueira, não permitindo ver ao certo o que é real e o que é falso. Assim como Eva, as notícias não tinham uma aparência agradável, mas mostrava algo necessário e que precisava ser notado, discutido e conversado, porque o mundo estava começando a esfarelar-se diante da humanidade.
A humanidade solidária
Um outro detalhe do quadro de Dalí, é uma sombra que cobre todo o mundo, essa sombra poderia ter diversos nomes, Covid-19, individualismo, fragmentação e etc…Ainda hoje, diante dessa sombra que cobre o globo, eu continuo me sentindo tão pequena e frágil como o menino geopolítico, escondido atrás da Eva, olhando o malabarismo político das relações internacionais e nacionais, diante da Pandemia, da instabilidade econômica, dos ataques constantes humanitários, da falta de cidadania e consciência com o próximo, sem saber muito como podemos mudar toda essa desordem que foi instaurada no mundo.
No meio do caos mundial, uma nova ética e cultura nasce, algumas vezes elas vêm sendo “impostas” duramente a sociedade global, com uma tremenda ambiguidade. Essas “novidades” algumas vezes chegam de forma barulhenta como um trovão causando medo, angustia, desconforto, aflição e incerteza, e ora chega silenciosa e suave, tão delicada que nem percebemos a sua chegada. E assim após mais de 210 dias de quarentena brasileira, conseguimos perceber as mudanças no nosso cotidiano, os nossos dias foram transformados de maneiras radicais e quase que insustentáveis, muitos não estão se dando conta da tremenda mudança que está acontecendo em nossa volta, do momento histórico e de suas consequências.
Se fizermos uma analogia, quando a OMS declarou a pandemia, o Coronavírus, já não era mais um “simples vírus”, mas ele já tinha se tornado uma “ doença complexa” e sem cura, a Covid-19, desta forma e neste momento histórico, a humanidade já não estava só contaminada pelo vírus, mas ela já tinha desenvolvido a doença, pois de alguma maneira, a doença afetou a vida de todos, mesmo daqueles que não desenvolveram os sintomas, se tornado a mais nova doença da humanidade, porque essa sútil diferença, que não é apenas linguística e patológica, toca as relações que cada ser humano tem. Tudo mudou!
Até meados de junho, estávamos sensíveis as dores da humanidade, esperávamos fazendo a nossa parte, e conseguíamos ver a dor do outro. Relatos de famílias que não tiveram a possibilidade do último adeus, pessoas que iam embora deste mundo tão solitárias como quando chegaram, médicos que viam vidas “escapar” entre seus dedos, enfermeiros que foram privados de cuidar do outro, pessoas que tiveram que voltar ao trabalho com medo, mães que não tinham aonde deixar seus filhos para irem trabalhar, e tudo isso acontecendo com desemprego em massa, dados falsos e verdades escondidas.
Por outro lado, trabalhos simples foram exaltados, faxineiras, porteiros, entregadores viraram heróis, e merecidamente esses profissionais, ganharam visibilidade e respeito. A área da saúde que andava desvalorizada em terras tupiniquins, diante da dor e fragilidade, muitos destes profissionais, ganharam destaques e reconhecimento nacional.
Uma grande rede de solidariedade, foi formada em vários pontos do Brasil, desde produção de mascaras, que foram distribuídas a moradores de ruas, favelas, hospitais. Donos de restaurantes e grandes empresas, doavam marmitas aos famintos, empresários distribuindo cestas básicas a famílias de baixa renda, que se viram com maiores gastos, e falta de comida a mesa, estimulo ao mercado local, e pessoas sendo estimuladas a continuar a pagar o salário do seu funcionário, mesmo que ele não pudesse vir trabalhar.
Mas diante a paralização, falta de liberdade, notícias massivas, cansaço psicológico, a solidariedade não foi forte o bastante para sustentar o fardo social, porque antes de ser solidário o homem precisa reconhecer o outro, como o “seu próximo”, é verdade que muitos se doaram de forma verdadeira ao outro, como um irmão; Mas muitos se doaram de forma individualista, como por exemplo, para ocupar a cabeça e não pensar no que acontecia, ou ainda, para garantir likes em suas mídias sociais. Ou seja, ao início da pandemia houve um desespero para garantir o “Meu”, para só depois pensar no outro.
As relações durante a Covid.
Mas porque a solidariedade não bastou?
Bom, vamos pegar o exemplo da Dona Maria, e Marlene, ambas cuidavam da limpeza e jardim do meu prédio, também tem o Sr. Osvaldo, nosso porteiro, ao início da pandemia, todos os condôminos, pediram para eles ficarem em casa, junto com os seus e para a proteção deles. Passando o primeiro mês, pediram a volta dos funcionários, pois os salários estavam sendo pagos, e os condôminos não estavam dando conta do serviço que eles faziam. Mas então descobriram que a Marlene tinha uma doença autoimune, por isso a maioria achou por bem dispensa-la e então Marlene foi despedida, já a esposa do Sr. Osvaldo, tem problemas respiratórios, ele também tem mais de 60 anos, por isso é do grupo de risco, ele também foi dispensado. Ficou somente a Dona Maria! Deram a ela a opção e ficar ou ir, por vários motivos, ela optou a ficar, e um deles, era o cuidado com o prédio, pois ao seu retorno, ele parecia estar abandonado.
Hoje a Dona Maria com seus quase 60 anos, faz jornada tripla de trabalho, cuida do jardim, da limpeza e também da portaria, mas o seu salário continua o mesmo. Outro dia quando cheguei, encontrei Dona Maria chorando nas escadas, quando ela me viu, tentou disfarçar. Me afastei dela, abaixei a minha máscara e sorri, ela me retribuiu um sorriso singelo. Perguntei a Dona Maria se estava tudo bem, ela então me respondeu que não tinha mais forças! Ela estava visivelmente cansada, e com humildade me disse, que fazia o seu melhor todos os dias, para deixar tudo em harmonia para os moradores, mas que estava difícil cuidar de tudo sozinha.
Dona Maria chorava porque tinha acabado de levar uma bronca de um morador, porque ela não tinha atendido em tempo o interfone, e que o elevador estava sempre sujo. Pobre Dona Maria, se doando a nós, pelo nosso bem-estar, e sem nenhum reconhecimento! Eis aí a falta de fraternidade!
A Fraternidade não é uma mera palavra, que se vive facilmente, ao oposto da solidariedade, ela requer reconhecimento do outro, a abertura reciproca e um empenho pessoal, que exige abdicar muitas vezes do seu interesse particular. Mas porque não aproveitar este tempo, para rever as nossas relações e a forma como tratamos as pessoas que encontramos no nosso dia-a-dia, para realizar a mudança que tanto almejamos? Devemos aproveitar este momento para fazer novas escolhas, buscar a estrada certa para percorrer, decidir pelo que realmente importa, separar o que é necessário do que não é necessário, é um tempo para reajustar a vida, verso a uma consciência saudável, verso ao outro.
Diante de tanta dor no mundo, e de um ano particularmente delicado, temos a obrigação de reconhecer o outro como meu irmão, pois todos estamos em um momento onde padecemos de afeto, devemos deixar florescer em nós a consciência do dar, e isso exige que doemos amor, escutas, olhares, sorrisos e gentileza, devemos doar vida, de forma singela, sem esperar nada em troca, de forma corajosa, como fez a Dona Maria todos os dias, que “[…]é capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história.[…] pessoas que compreenderam que ninguém se salva sozinho.”(Francisco, 2020, Adoração).
O Estado por sua vez, ao tentar ajudar os mais fragilizados pela pandemia, busca uma economia emergencial, mas falha ao ter uma informação equivocada da situação real da sua população, o Governo Brasileiro ao liberar o auxílio emergencial, não havia ideia de quantas pessoas teriam que dar atendimentos, o governo calculava que cerca de 36 milhões de pessoas entrariam com a solicitação do auxílio, mas pela sua surpresa esse número foi elevado a 50 milhões! (Nunes, 2020: 39).
Porém, por sua vez a sua população corrupta, buscou a todo custo se encaixar no perfil, mesmo tendo condições financeiras, utilizando das brechas do sistema. Dessa forma essa conta levou o estado em situação de alerta econômico, muitas pessoas que teriam direito ao auxílio, que estão em situações precárias, ficaram prejudicadas por conta da corrupção de alguns brasileiros de classe média e classe média alta, brasileiros que por quererem um celular mais moderno, tiraram comida de cima da mesa de uma população fragilizada pela pobreza e pela falta de emprego gerada pela pandemia.
Eis a falta de fé gerada pela pandemia, não se importar com o outro, o desinteresse e a falta de cuidado entre nós, é o que mais gera dor e turbulência no coração do homem, desmascarar a vulnerabilidade, descobrir as falsas seguranças, nos faz ver como deixamos adormecidos e abandonado tudo o que nutre e sustenta o homem.
Dentro dessa complexidade entramos em uma outra questão, a nova lógica das relações. A verdade é, que dentro desse “jogo” ainda tem um movimento muito maior, que chamamos de vida! A vida é um movimento continuo, que não para, e a pandemia exigiu que o homem parasse.
É uma perfeita metáfora do nosso tempo, a vida antes da pandemia, não permitia tempo para coisas importantes, o principal era cumprir uma agenda insana repleta de cronogramas e programações que extraia todo o homem, e o reduzia em suas atividades e funções diárias, com isso deixávamos nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não tinha espaço para problemas alheios e muito menos para caos global, como guerras e injustiças.
Algumas vezes, podíamos até pensar nos problemas globais, nós indignando com problemas sociais de outros países, em situações de guerras, fomes, corrupções, ambientais ou miséria, mas logo sentíamos dominados pela incapacidade de que sozinho não poderia fazer a diferença mundo, e dessa forma nos fechávamos em nós e ignorávamos tudo que era fora do nosso mundo, pois aquele mundo que escolhemos viver, pode muitas vezes nos bastar.
Dessa forma, continuamos a nossas vidas, sem medo, acreditando que seriamos saudáveis em um mundo paralelo, com uma falsa felicidade, mas esquecemos que este mundo, está inserido em um mundo maior e doente. Este ano, o nosso mundo paralelo desapareceu, e nos vimos em um mundo prostrado, gritando por ajuda, e agora nos sentimos agitados e infelizes. Porém ainda erramos, ao desperdiçar a pouca energia que nos resta, ao culpar outras pessoas, pelo momento em que estamos vivendo.
Ainda não conseguimos enxergar os nossos erros e negações, quem dirá enxergar os problemas de pobreza que se encontra na periferia de nossas cidades, e das guerras insanas que acontecem dentro das favelas das grandes capitais brasileiras. O meu próximo não se encontra somente em outros países, não se encontram em governantes, mas ele se encontra em cada esquina de nossas cidades, ele se encontra muitas vezes dentro da nossa própria famílias.
Porém, por sua vez a sua população corrupta, buscou a todo custo se encaixar no perfil, mesmo tendo condições financeiras, utilizando das brechas do sistema. Dessa forma essa conta levou o estado em situação de alerta econômico, muitas pessoas que teriam direito ao auxílio, que estão em situações precárias, ficaram prejudicadas por conta da corrupção de alguns brasileiros de classe média e classe média alta, brasileiros que por quererem um celular mais moderno, tiraram comida de cima da mesa de uma população fragilizada pela pobreza e pela falta de emprego gerada pela pandemia.
Eis a falta de fé gerada pela pandemia, não se importar com o outro, o desinteresse e a falta de cuidado entre nós, é o que mais gera dor e turbulência no coração do homem, desmascarar a vulnerabilidade, descobrir as falsas seguranças, nos faz ver como deixamos adormecidos e abandonado tudo o que nutre e sustenta o homem.
A unidade e o Vírus
Mas diante de tudo isso, ainda temos a possibilidade de ver olhares doces, entre as máscaras, e é com esses brilhos nos olhos que provo a iluminar algumas ideias colocadas neste texto, não possuo respostas, mas buscarei alguns pontos que podem ser um caminho a seguir.
Estamos tendo a oportunidade de recomeçar, e ainda nos salvar! A solidariedade não foi suficiente, porque acabamos individualizando de uma vez, por exemplo: Muros invisíveis foram erguidos, em pró da proteção contra um vírus; vimos muros entre países e pessoas, serem levantados, muros dentro de muitas famílias; A política foi mais polarizada, todos se acham portadores de verdades; as fronteiras foram fechadas, acordos diplomáticos pediram pausa e outros, por sua vez, esquentaram! A liberdade delicadamente foi roubada, ameaçando a unificação e fragmentando um pouco mais. Separamos os idosos, autoimunes e doentes da presença de seus familiares. Também foram afastados pais e filhos pela quantidade de trabalho que entram a cada minuto nos dispositivos, casais que após anos de casamento, descobriram que são incompatíveis pelo simples fato de poder conviver. Crianças sofrendo abusos “psicológicos” porque ainda não tem maturidade para compreender o que está acontecendo, estamos sendo privados de sorrisos.
Temos que encontrar coragem para enfrentar as contrariedades que estamos passando, deixando por um momento nossas ânsias, e vontade de possuir, para dar espaço a inovação que o momento atual nos pede, deixando a nossa consciência livre para, suscitar a paz, dando espaço para novas formas de hospitalidade, para sermos salvos e assim poder acolher a esperança até que ela se fortaleça e sustente a humanidade, libertando do medo gerando esperança.
Inovar significar exercitar a paciência diária, mostrando às nossas crianças com pequenos gestos como enfrentar um período difícil, readaptando hábitos, levantando o olhar para o outro, estabelecendo novos limites, aproveitando o momento em família para vivencia-lo bem, utilizando das mídias para propagar esperança no lugar do medo.
A vida não para! O tempo não para! E a vida não dá direito a replay, e isso está sendo a maior ferida da humanidade, porque reconhecemos que estamos sendo impossibilitados de conviver, e de se relacionar, com quem se ama e se importa. Estamos presos dentro das nossas próprias casas, dentro dos nossos medos, e mesmo assim a vida não para!
Na história da humanidade não é a primeira vez que se exalta a individualidade, vemos um pequeno sinal de regressão na história, a ideia de unidade vem sendo distorcida, criam-se novas formas de egoísmo, a doença é útil ao indivíduo de acordo com o seu próprio interesse.
Mas estar no mesmo mundo, é assumir que existe diferenças social, religiões, etnias, mas é assumir que esses pontos não fragmento, pois sempre encontrará suas semelhanças, isso nos ajuda a um convívio verdadeiro e dinâmico, devemos cobrar mais de nos mesmo e não tanto do outro, devemos enxerga que eu sou o ponto de mudança.
No último século, “o mundo tinha aprendido com tantas guerras e fracassos e, lentamente ia caminhando pra variadas formas de integração” (Francisco, Carta, 2020: 03-10). Uma integridade que buscava minimizar os problemas e que aspiravam a paz.
Para podermos extrair da história, inspirações para os problemas atuais, devemos ter a sensibilidade e capacidade para enxergar de diversos ângulos diferentes. Acredito por exemplo, que através da fraternidade, encontraremos meios seguros para superar os problemas, a mais nova forma relacional é o distanciamento, e não podemos perder a nossa grandiosidade de se relacionar, não podemos adoecer, fomos criados para a relação.
Dessa forma a fraternidade nos mostra, que precisamos encarar as tempestades juntos, porque estamos no mesmo mundo, no qual precisa de encorajamento, valor e orientação, percebemos que não podemos continuar cada um em sua estrada, mas que precisamos da união da força para caminhar juntos na mesma estrada, depositando novamente a fé na humanidade, praticando a confiança, para superar o medo, e assim gerar uma nova consciência, porque ela resulta no bem, mesmo quando vida está passando por momentos ruins, essa consciência, quando bem trabalhada, traz tranquilidade, gerando vida.
Em meio ao caos, despertar a fraternidade de forma segura, é restabelecer neste processo, o comprometimento de ambas as partes, dando solidez e apoio, teremos uma ancora, que poderá resgar e curar.
A caridade com o meu próximo, gera um mundo aberto a possibilidades, ao decorrer desse ano, vejo que a ética do futuro, é aquela aberta ao outro, desprendida de interesse particular, que gera algo maior. Precisamos ter a coragem para sair do Eu e olhar o mundo, ter coragem de se posicionar, ter coragem de dar dignidade e respeito, pois não viemos ao mundo para ser só.
Por mais que o mundo tenha pedido uma pausa, tendo o olhar voltado ao outro e me abrindo para a realidade, conseguirei exercer a minha totalidade, livremente, “Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente (…); precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante saber sonhar juntos! (…) Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto que se constroem os sonhos” (Francisco, Adoração, 2020).
Ana Paula Baptistão
Bibliografia
Francisco, Carta Encíclia Fratelli Tutti: Sobre a fraternidade e a amizade social.
Vaticano, A Santa Sé, 2020.
Francisco, Adoração do Santíssimo e Bênção Urbi et Orbi. Vaticano: Vaticano News, 2020.
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-homilia-oracao-bencao-urbe-et-orbi-27-marco.html
Francisco. Homilia do Santo Padre. Adoração do Santíssimo e Bênção Urbi et Orbi. A Santa Sé. 27 março de 2020.
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-homilia-oracao-bencao-urbe-et-orbi-27-marco.html
Nunes Girard Ferreira, Christiane. “Em tempo de Coronavírus”. Caderno de Administração. 04 junho de 2020.
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CadAdm/article/view/53589
*Ana Paula Baptistão, LM Ciências econômicas e políticas, Sophia University Institute.
SOURCE: sophiauniversity.org